terça-feira, julho 18, 2006

NUCLEAR, NÃO OBRIGADO!

Recentemente, temos assistido, passados quase 20 anos, ao ressurgimento do tema do nuclear em Portugal. Se juntarmos a isto, a situação internacional com a posição do Irão e a possibilidade de um novo conflito, assim como a continua escalada do preço do Petróleo, percebemos que esta questão, do nuclear, veio para ficar. Antes de mais, gostaria de dizer que estou bastante preocupado com a dependência energética do País e, com o cumprimento do Protocolo de Quito (Acordo assinado na cidade Japonesa de Quioto, onde vários países se comprometeram a reduzir os gases poluentes, caso contrário terão de pagar por essa poluição). Não considero, no entanto, que a fuga para a frente seja, mais uma vez, a solução.

Neste caso o nosso país está muitos anos atrasado, quando a maioria da Europa está a desmantelar, ou pelo menos, a não construir mais centrais nucleares (excepção de uma na Finlândia). Portugal quer fazer algo que cada vez mais se percebe, que, apesar deste contexto internacional, não é o futuro. Se, em 1954, após a criação da Junta de Energia Nacional (JEN), temos avançado com a construção de uma Central Nuclear, teríamos estado na vanguarda. Hoje, passados mais de 50 anos, apostar numa energia de alto risco não me parece uma boa solução.

Os impulsionadores deste projecto reafirmam a segurança destas centrais, que é uma energia limpa e barata. Será talvez interessante desmistificar nomeadamente os custos, uma vez que o factor económico é o argumento mais utilizado pelo empresário Patrick Monteiro de Barros. É verdade que o custo de produção de energia nuclear (após a fábrica construída) em relação com o de outras fontes é menor, no entanto, para além dos custos gigantescos de construção (que contam necessariamente para o preço final), há ainda os custos do seu desmantelamento. È verdade que emite menos gases poluentes para a atmosfera, mas e a restante poluição? Segundo os especialistas, após o ciclo de vida de uma central (40 a 50 anos), é necessário construir um autêntico sarcófago em betão para confinar lá os materiais radioactivos por pelos menos 30 anos, antes de poderem ser manipulados. Só depois se pode efectuar o desmantelamento propriamente dito. Há ainda que encontrar um local para colocar os materiais radioactivos, que estarão activos por milhares de anos. Quanto custa isso em termos económicos e ambientais? Na Europa ninguém os quer. Envia-se para Africa, como alguns Países Ocidentais fazem? E essas populações estão informadas dos perigos que correm? Não serão eles gente como nós? A seguir, ainda temos que descontaminar o terreno e as áreas envolventes. Há ainda a taxa de disponibilidade, ou seja, o tempo em que a central está, realmente, a produzir energia. Os promotores falam em 90%, mas até em França, que possui 59 centrais, esse valor é menor. E caso haja problemas que impliquem parar a central, não haverá pressões para a recolocar em funcionamento, mesmo sem ter as medidas de segurança totalmente garantidas. Não será esse um argumento a adoptar após a construção da primeira central para que se construam outras? Os Estados Unidos são o país com mais centrais (104) e onde a segurança é mais rigorosa. Desde 1973 que não constroem nenhuma. Porque será? Será porque não dependem do petróleo? Não me parece, aliás como se viu pela guerra do Iraque e do possível conflito com o Irão.

Em relação à segurança, deixo apenas uma frase do antigo ministro de Marcelo Caetano, Veiga Simão e um dos impulsionadores da JEN, “um País que não domine a protecção e segurança nuclear não pode ter estes empreendimentos.” Todos nos lembramos de Tchernobil, que, apesar de ter sido o mais grave acidente, não foi o único, já que as pequenas fugas são relativamente comuns nas centrais. Por último, quero reafirmar que estou preocupado com a dependência energética de Portugal e que acredito noutras soluções. Para já, na mais fácil, ou seja, a redução de consumo pela redução do desperdício. Segundo os estudos mais recentes, estamos a falar de 20 por cento, ou seja mil milhões de euros. Uma outra, passa pelo incentivo (que este governo finalmente está a dar) às energias alternativa, nomeadamente a foto voltaica, ou seja, a transformação da energia solar em eléctrica, a eólica e à energia das ondas. Por último e se queremos estar na vanguarda do nosso tempo, deveríamos aderir ao projecto do Reactor Internacional Termonuclear Experimental, que, ao contrário do nome, não é o mesmo que os utilizados no momento. Este projecto prevê no prazo de 10 anos reproduzir na terra a energia das estrelas. O processo é mais simples, uma vez que utiliza Hidrogénio e Tritio, em vez de urânio ou plutónio. Segundo um responsável da U.E, dez gramas de deutério (obtém-se de 500 litros de água) e 15 gramas de Tilio são capazes de gerar a energia necessária a um indivíduo de um país industrializado ao longo de toda a sua vida. Resta ainda acrecentar que o lixo desta fusão é o hélio (um inerte) e um neutrão, que activa as paredes do reactor, e que com uma boa escolha de materiais pode perder a radioactividade em 50 anos ao invés dos actuais milhares das centrais nucleares. O leitor poderá pensar que isto não passa de ficção, no entanto o projecto existe e está a funcionar em Cadareche (França). Custará 10 mil milhões de euros, um pouco menos que a OPA da Sonae à PT, e tem como parceiros iniciais a UE, os EUA, o Japão, a China, a Coreia do Sul e a Rússia e, mais recentemente, a Índia. Esta, sim, poderá ser, a próxima energia, limpa, barata e segura. No entretanto, espero bom senso por parte das autoridades e um contributo dos cidadãos, nomeadamente na contenção dos gastos de energia. Coisas tão simples, como ter lâmpadas de baixo consumo (mais caras mas mais duradoiras e económicas), de desligar a televisão no botão e não no comando, para além de ter mais atenção a desligar as luzes em divisões onde não se está, são grandes contributos para reduzir consumos e evitar medidas pouco pensadas de investidores que não se preocupam com as consequências futuras das suas decisões do presente.

Estaremos nós disponíveis a construir um equipamento cujos efeitos directos ainda se farão sentir daqui a cem anos e os indirectos por milhares? Estaremos nós disponíveis a hipotecar o futuro dos nossos filhos? Por mim a resposta está dada. Nuclear não, obrigado! Nunca tanto como agora este velho slogan faz sentido.

Pedro Ribeiro

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