terça-feira, julho 18, 2006

CICLO DE PROSPERIDADE

Portugal está em excelentes condições para lançar um forte período de crescimento e modernização.
A situação parece desmentir esta ideia, mas é preciso saber ver com olhos económicos e sociais. Também aconteceu o mesmo no início de todos os anteriores ciclos de prosperidade.
Alguns aspectos são consensualmente favoráveis e, com surpresa abonatória, por uma vez estão no campo político. O país goza de estabilidade institucional e tem um Governo com maioria, sem eleições próximas. Mais importante, a população está consciente da necessidade de reformas. As ameaças externas e a conjuntura criaram um clima favorável à aceitação de mudanças e, até, de sacrifícios. Essas ameaças e estagnação desanimam algumas empresas e jornais, mas estimulam os políticos do actual Governo.
Relativamente às condições económicas, elas não são de facto boas, mas porque derivado às circunstâncias críticas. O grande começo do período de dificuldades, os “anos de Cavaco Silva” de 1986 a 1993, seguiu-se uma das piores crises desde a guerra mundial.
A actual conjuntura, pelo contrário, mal chegou a ser recessiva, caindo antes numa paralisia nos governos de Durão Barroso e Santana Lopes. Isso, junto ao facto de sermos já um país rico, reduz a reacção que quedas anteriores motivaram. Esta reacção política do Governo é um dos factores que pode lançar o tal ciclo de prosperidade; e Portugal é conhecido por se superar nas dificuldades, depois de ter adormecido na abundância.
Felizmente, o tradicional pessimismo fadista pode aqui trazer vantagens. Embora a crise não seja forte, os artigos, opiniões e conversas empolam o drama. Isso significa que, assustado, não tanto pelos factos mas pelos argumentos, o País com José Sócrates e o seu Governo, já está a obter a tal reacção saudável.
Por outro lado, apesar do que dizem as mentes opinantes, dificilmente se poderia imaginar perspectiva mundial mais adequada ao nosso crescimento. O petróleo, a China e outros detalhes são maus. Mas a globalização constitui um campo privilegiado para o dinamismo de uma pequena economia flexível e imaginativa, secularmente habituada ao comércio e abertura.
É verdade que a envolvente imediata é de europessimismo, devido a uma recaída em novo surto de retórica burocrático-constitucional. Mas, felizmente, também aqui a opinião é mais negra que a realidade. Ainda estão longe de estar esgotados os benefícios da anterior euro-euforia. O aprofundamento da integração de mercados cria muitas oportunidades por explorar, como mostra a dinâmica nos membros a Leste.
Estão pois disponíveis circunstâncias adequadas para iniciar, nos próximos anos, um processo de forte crescimento e modernização. Mas o facto de existirem condições não quer dizer que sejam aproveitadas e que o resultado esteja garantido. Há também elementos paralisantes bem patentes, que podem esbanjar tais possibilidades. Esses bloqueios são de fora e de dentro, mas os piores, como habitualmente, vêm da nossa elite, historicamente reaccionária e ociosa.
O preço do petróleo e a China são maus. Mas pior é o referido desânimo fadista, que com vantagens pontuais, é sempre muito perigoso. O principal travão, porém está nos interesses corporativos instalados. Confiados na influência mediática, esses grupos retiram muito mais do que produzem, tornando-se os grandes agentes da actual paralisia. Felizmente, o problema está diagnosticado e a terapêutica começa a ser eficazmente aplicada. Mas, como sabemos desde D. João II, será sempre longa campanha de resultados a julgar.
Outro obstáculo grande do Governo surge do exterior. Como ele pensa, cabe-lhe também a iniciativa e a execução da expansão. Ao criar um clima favorável às empresas e seus agentes é uma das politicas sérias de desenvolvimento.
O deixar fazer, porque quem produz são as empresas, tal como quem cura são os médicos e quem ensina são os professores. Desta vez, porém, os nossos governantes têm nas mãos uma tarefa essencial, porque foi a dissipação dos antecessores que criou a actual crise financeira e social. O sucesso aí depende mais de pequenas e pacientes correcções, como estão a ser feitas, que de reformas bombásticas e curas miraculosas. Isso cria um grande passo em frente, medidas como as que estão a ser tomadas, a título de exemplo: a pequena revolução na entrega da correspondência, inserida no Plano Tecnológico entre tantas, que seria exaustivo inumara-las.
De qualquer maneira, uma coisa é certa: os próximos anos de arranque serão sempre longos, delicados, árduos e difíceis. Exigirão sempre ver com olhos económicos e sociais.


BOTAS SOARES,
JURISTA E MEMBRO DO EXECUTIVO JF DE FAZENDAS DE ALMEIRIM

Site Meter