terça-feira, maio 09, 2006

- Centro Hospital do Médio Tejo



Estou convicto que não há outra solução…



…de poeta todos temos um pouco…


Após dois anos de debate inter-pares, a solução integrada para os Hospitais do Médio foi surgindo e sendo gizada, dando lugar a um projecto e programa de complementaridade, em 2001.
Nessa altura, estavam definidas as actividades de cada hospital, bem como a forma como cada um deles poderia desenvolver algumas das suas valências, caminhando para ofertas de nível superior.
Só farei afirmações derrotistas neste parágrafo. Todos sabemos que estes três hospitais, com a dimensão e população que servem, deveriam ser só um. Todos sabemos que não há outro erro técnico desta dimensão na Europa, em que os recursos hospitalares construídos chegam para uma população de 500.000 habitantes. Erro do Governo PS que não travou a tempo o ímpeto populista do Governo PSD, erro dos autarcas do PS e do PSD que sempre amplificaram e amplificam a voz e o sentimento de perda, erro dos deputados que nunca deputaram com força contra o percurso do processo, erro dos profissionais que sempre alinharam e alinham pela visão caseira, erros nossos má ventura. Já perdemos sete anos! Fim da fase derrotista da opinião.
A parte realista da questão é que temos três edifícios novos, que sofrem de maleitas: distam trinta quilómetros ou trinta minutos entre eles (para umas coisas parece muito para outras nem tanto); nenhum deles é rentabilizavel por si só (não há dinheiro que resista, obrigam-se muitas triplicações); cada um serve uma população de 75.000 habitantes (manifestamente muito pouco); nenhum tem uma coordenação de funcionamento articulada com os centros de saúde a montante (a antiga incapacidade de articulação dos sectores de saúde); os profissionais especializados são muito poucos (imagine-se que ainda têm que ser repartidos em serviços repetidos, triplos e não complementares); não há transporte de utentes inter hospitais (atente-se que eu escrevi utentes e não doentes).
Para estes problemas só podem existir soluções que todos conhecem mas muito difíceis (não impossíveis):
• definir o nível de diferenciação de serviços que é razoável esperar de cada uma das unidades, respondendo à procura hospitalar das áreas de atracção de cada um dos hospitais;
• estabelecer uma rede de cuidados primários, com unidades de saúde familiar, mais próxima dos cidadãos e sem horários administrativos;
• criar uma rede permanente e activa de transportes inter unidades que sirva os utentes;
• pedir aos profissionais que partilhem esta solução para que os seus esforços sejam reconhecidos, para que se sintam motivados com os resultados, para que sintam que há mais interesse colectivo em causa;
• exigir ponderação dos políticos (pessoas e partidos). Em saúde, não se pode ser negativo. Há que gerir recursos, a bem da qualidade e em favor dos cidadãos. Embora a questão deva ser decidida por políticos e exija orientações e estratégias desenhadas por quem exerce o poder, logo é político, esta é uma questão muito complexa, talvez única, que obriga à conjugação de vontades e a muito diálogo sensato;
• propor que o Ministro considere este um caso especial, que deverá continuar a ser acarinhado numa perspectiva de maior diferenciação de algumas especialidades. É importante criar nesta zona do país serviços diferenciados de qualidade ou até mesmo de excelência. (pneumologia, fisiatria, hemodinâmica, neurologia). Podemos ser amanhã uma Unidade Local de Saúde para o Oeste e Vale do Tejo (802.000h) em algumas especialidades ou, para a AML (3.000.000h), noutras.
• perceber que a associação de municípios do Médio Tejo tem nesta matéria particular responsabilidade e tem por isso particular responsabilidade em ser parte da solução construtiva.
Estou convicto que não há outra solução, a não ser fazer convergir de forma integrada este conjunto de opções, promovendo os ganhos em saúde e criando serviços com mais valias relativamente aos actuais.
Há doze anos, quando eu estava perto, tinha essa convicção, agora que estou um pouco mais longe, continuo a afirmar que a complementaridade é a solução para a rede de saúde do Médio Tejo. A complementaridade, para os cuidados primários, diferenciados e continuados, a complementaridade, para os profissionais da saúde que olham para o interesse colectivo, a complementaridade, para os autarcas e políticos.
O Ministro terá de investir na diferenciação e qualificação dos cuidados de saúde, no Médio Tejo, aproveitando a mais valia existente.
Sonho para alguns? Convicção para mim!

Lisboa, 17 de Abril de 2006

Deputado Nelson Baltazar
publicado no Jornal "A Barca"

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