terça-feira, maio 09, 2006

- Reflexões de um cidadão

REFLEXÕES DE UM CIDADÃO

Quando em 2003 os E.U.A. e alguns Países da Europa, incluindo Portugal, decidiram que o Iraque deveria ser invadido, anunciaram, que entre os motivos, estava a democratização e o estabelecimento de uma paz que fosse exemplo para a Região. Volvidos 3 anos, é verdade que desapareceu um ditador, mas, a paz e a democracia são apenas miragens. Desde que começou a guerra, morreram entre 30 a 40 mil pessoas, conforme as fontes, entre civis e militares. Obviamente que hoje é legitimo perguntar-se onde estavam as armas de destruição massiva ou onde está a paz tão prometida. É também legitimo pedir àqueles que dividiram a Europa que comentem a escalada dos preços do petróleo, que não é mais do que uma consequência directa da intervenção militar e, para muitos economistas, o principal factor para que a Europa não cresça mais economicamente. Mais uma vez, alguns países europeus foram ingénuos ao ponto de acreditar que a Administração BUSH apenas tinha interesses democráticos. Após todo este tempo e numa altura em que se fala insistentemente da possível invasão do Irão todos, sem excepção devemos aprender com a história e perceber que os conflitos muito raramente se resolvem pela força das armas.
Há alguns anos atrás o Dr. Mário Soares proferiu declarações dizendo que se para alcançar a paz fosse necessário negociar com os terroristas se deveria fazê-lo. Muitos foram os críticos, inclusive eu próprio, no entanto com o passar do tempo cada vez me convenço mais que o diálogo é a única via.
Tomaremos como exemplo outros conflitos e recordemos aqui uma frase do Arcebispo da Africa do Sul Desmond Tutu: “Por vezes para se alcançar a paz é mais importante agir com sabedoria que com justiça”. Esta frase foi proferida no contexto do fim do “Apartheid”. Se Mandela pretende-se aplicar a justiça a quem tinha assassinado e escravizado 90%, da população, teria desencadeado uma guerra civil com centenas de milhares de mortos. Preferiu a sabedoria de nomear Tutu para a Comissão da Verdade onde os crimes foram identificados mas posteriormente amnistiados. Mandela levou à letra a frase bíblica de oferecer a outra face. No entanto, podemos considerar mais alguns exemplos. Arafat foi considerado durante anos um perigoso terrorista por todo o mundo ocidental. Em meados de 90 foi recebido na Casa Branca com honras de Chefe de Estado pelo Presidente Clinton para negociar com Rabin Primeiro-Ministro de Israel.
O aperto de mão entre os dois foi considerado, por muitos, de ambos os lados, uma traição a 3000 anos de conflito. Mais tarde, Sharon, que defendeu o assassinato de Arafat durante toda a sua vida, percebe que nunca acabaria com o estado de guerra em que Israel sempre viveu desde a sua fundação e que a única solução passava pela mesa das negociações. A Irlanda do Norte, que vive um conflito entre cristãos e protestantes há 700 anos, com centenas de mortes de ambos os lados apenas resolveu a situação quando o IRA e o Governo Britânico se sentaram para falar, o que culminou em 1998 nos acordos de sexta-feira Santa. Ainda o mês passado, a ETA, os inimigos públicos dos Espanhóis, declararam um cessar-fogo permanente. Após 40 anos de conflito, não foram os serviços secretos nem os militares ou as forças de segurança que terminaram com o terrorismo. Foi o diálogo.
Estes exemplos são a meu ver aplicáveis à questão Iraquiana, a opção é entre a justiça de condenar os responsáveis pelas 40 mil mortes ou a sabedoria de evitar outras tantas. Espero que a Europa unida, esteja à altura de abraçar este desafio, uma vez que o Sr. Bush já se mostrou totalmente incompetente em matérias de paz. Como já se provou com o “Apartheid”, a OLP, o IRA ou a ETA, o tempo e os protagonistas podem mudar aquilo que hoje parece impossível. Haja líderes e vontade de mudar.

Pedro Ribeiro
Publicado em "O Almeirinense"

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